Marlon Brando discursa como Marco Antônio no filme Júlio César (1953)
O ator Marlon Brando interpretou Marco Antônio no filme "Júlio César", de 1953 ©

Foto de divulgação

Júlio César mostra a situação política em Roma em 44 antes de Cristo e aborda temas como disputa de poder, jogos políticos e de manipulação. Na trama, o governante Júlio César está cada vez mais poderoso e influente. E, por isso, acaba sendo assassinado por um grupo de políticos, que antes o apoiava. 

Quem comanda o ataque é Bruto, pupilo de César, que justifica o ato dizendo que a ambição desmedida do líder estava conduzindo-o à tirania e a única maneira de manter o povo livre e salvar a democracia era por meio de sua morte. O povo romano não só aceita a explicação como ovaciona Bruto feito um herói. No entanto, Marco Antônio, aliado de César, discursa em seguida e é tão eloquente e arguto em seu pronunciamento, que convence os cidadãos de que César não era ambicioso e Bruto é um traidor. Na sequência, os conspiradores são perseguidos, e Marco Antônio busca assumir o poder do Império.

Embora a trama narre acontecimentos de uma época muito distante, você e seus alunos vão se surpreender com a contemporaneidade dessa obra, que é uma das mais emblemáticas de Shakespeare.

Nossa sugestão é explorar os dois discursos em sala de aula, comparando-os. Você pode até pedir que dois alunos, voluntários ou eleitos pela classe, fiquem responsáveis pelos papéis de Bruto e Marco Antônio. E o restante da turma represente o povo e vote na apresentação mais convincente. Será que o resultado será igual ao da obra de Shakespeare?

Essa representação pode render também boas discussões. Será que as falas dos políticos de agora têm esse mesmo poder de dissuasão? Será que, hoje em dia, as pessoas mudam de opinião rapidamente, ao gosto do orador mais sedutor? 

Outra sugestão é apresentar à turma as características da retórica, a arte da persuasão, que já existia na Idade Média e era ensinada nas universidades. É bem possível que os alunos fiquem curiosos para saber mais a respeito dessa técnica. 

Aproveite também para contar aos alunos que, no original em inglês, a fala de Bruto é em prosa e a de Marco Antônio, em verso. Por que será que Shakespeare fez isso? Certamente, não foi uma escolha fortuita do escritor. Estudar as características da duas manifestações literárias pode dar pistas que ajudem a elucidar essa questão.

Este é um gancho também para falar da importância do pensamento questionador. Os alunos têm clara a diferença entre senso comum e senso crítico? Na opinião deles, o povo romano, ao exaltar Brutus e execrá-lo em seguida, age de forma ponderada? Usa o senso comum ou exercita o bom senso? E atualmente: será que a maioria das pessoas costuma analisar criticamente o que escuta, assiste ou lê? 

A análise do personagem Bruto também pode render ótimos trabalhos. Em sua defesa, ele afirma que matou o líder para o bem de Roma. O que os alunos acham desse argumento? Ele pode ser relacionado ao pensamento do autor Nicolau Maquiavel, que diz que os “fins justificam os meios”? Esse conceito continua fazendo parte do mundo atual? 

A peça Júlio César ganhou versões para o cinema e a TV. Destaque para a produção de 1953, que recebeu vários prêmios e tem o ator Marlon Brando no elenco, e para o filme de 1970, com Charlton Heston. A coleção de curtas da campanha Shakespeare Lives também tem uma versão da peça que se passa em um futuro distópico, com atuações de Mark Stanley (conhecido por seus papéis em Game of Thrones e Dickensian) e Tony Osoba. O vídeo tem pouco mais de três minutos de duração e legendas disponíveis em português. Veja aqui.

A obra de Shakespeare é rica em possibilidades, permite trabalhos interdisciplinares de história, literatura e filosofia e pode inspirar a turma de muitas formas! As ideias aqui apresentadas são apenas alguns pontos de partida para estimular os alunos. Conheça outras formas em nosso material didático Shakespeare Vive nas Escolas.

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