Laurence Fishburne como Otelo
Laurence Fishburne como Otelo ©

Foto de divulgação

Otelo, o Mouro de Veneza é uma das mais comoventes tragédias shakespearianas. Por tratar de temas universais – como ciúme, traição, amor, inveja e racismo –, ela pode ser ponto de partida para diversas reflexões e interpretações.

A peça estreou em 1604 e levou para os palcos um casamento inter-racial – assunto polêmico para a época! Na trama, Otelo é um general mouro a serviço do reino de Veneza, casado com Desdêmona, moça de pele clara e filha de um rico senador. Eles se uniram às escondidas e o genro só é aceito pelo sogro porque o casamento já está consumado. E aqui temos a primeira provocação de Shakespeare. 

Sinais de racismo permeiam toda a peça, como na fala de Iago, inimigo secreto de Otelo, em conversa com o pai de Desdêmona: “...agora mesmo, neste momento, um velho bode negro está cobrindo vossa ovelha branca... / ... Quereis que vossa filha seja coberta por um cavalo berbere e que vossos netos relinchem atrás de vós?”. 

Hoje em dia, a nossa sociedade é menos preconceituosa? A cor da pele e a nacionalidade de uma pessoa são motivos para exaltá-la ou diminui-la? É possível listar formas veladas de preconceito comuns no dia a dia? Esse tema é explorado no curta Dear Mister Shakespeare, produzido pelo British Council especialmente para a campanha Shakespeare Lives.

Um grande estudo sobre a alma humana

A obra de Shakespeare pode render ótimas discussões sobre aparência e realidade. A começar por Iago, um dos maiores vilões da literatura. Na peça, ele é chamado de honesto diversas vezes por diferentes personagens. Mas em sua essência é pérfido, maquiavélico e sem limites. Finge lealdade a Otelo, apesar de odiá-lo. Isso porque o general promoveu o soldado Cássio ao cargo de tenente, preterindo-o. O fato despertou em Iago uma inveja devastadora e seu grande objetivo passa a ser a destruição de Otelo. Movido por esse sentimento sombrio, ele tece intrigas que fazem o protagonista acreditar que sua esposa o trai com Cássio. Não há provas, apenas insinuações, que vão envolvendo o general, enlouquecendo-o aos poucos. Cego de ciúme, Otelo mata Desdêmona e só depois descobre que ela era inocente. Então, cheio de culpa, ele se suicida.

O personagem Otelo também permite essa análise. No início, ele  se mostra um homem forte, viril e seguro, que acredita nos sentimentos de sua amada. Mas logo é facilmente dominado pelo ciúme e revela suas fraquezas internas.

O pai de Desdêmona, senador e figura de destaque na sociedade, também mascara seus reais valores. Se a princípio exalta Otelo como líder guerreiro, em seguida o ridiculariza pelo “negrume de seu peito”, quando ele se torna marido de sua filha.

No mundo atual, qual é o peso da aparência? Levamos muito a sério a opinião dos outros a nosso respeito? As postagens nas redes sociais transmitem a imagem do que realmente somos?

O ciúme exagerado é outro aspecto que pode ser trabalhado em sala de aula. Até que ponto sentir ciúme pode ser considerado normal? Será que o ciúme de Otelo está relacionado a um sentimento de inferioridade por causa de sua cor? Aproveite para contar à turma que o desequilíbrio do personagem shakespeariano inspirou o nome de um distúrbio: a síndrome de Otelo. As pessoas com essa doença sofrem com o delírio de que seus parceiros são infiéis.

Uma outra sugestão é relacionar Otelo com o livro Dom Casmurro, de Machado de Assis. Nas duas obras, os personagens sofrem de um ciúme exagerado em relação às suas amadas. Na narrativa machadiana, Bentinho assiste à peça de Shakespeare e conclui que Capitu é culpada, ao contrário de Desdêmona. As comparar as duas obras, a turma pode descobrir pontos em comum e elaborar ideias interessantes.

Entre as versões para o cinema, vale destacar o filme de 1995, de Oliver Parker. Otelo é interpretado por Laurence Fishburne, e quem dá vida a Iago é o ótimo Kenneth Branagh. 

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