Michael Fassbender em Macbeth, versão do diretor Justin Kurzel (2015). Divulgação.
Michael Fassbender é Macbeth no longa dirigido por Justin Kurzel (2015) ©

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Segundo o crítico literário Harold Bloom, Macbeth é o mais tenebroso dos dramas shakespearianos. A peça é uma ótima oportunidade para refletir sobre aspectos sombrios e atemporais do comportamento humano, como ganância, traição e culpa. 

A história se desenrola na Escócia, no século XI. Os generais Macbeth e Banquo retornam vitoriosos de um batalha. No caminho para casa, eles se deparam com três bruxas que fazem uma profecia: Macbeth se tornará barão e depois, rei. E os filhos de Banquo serão os próximos soberanos. 

Assim que o primeiro presságio se concretiza e Macbeth é nomeado barão, a vontade de se tornar monarca ganha espaço no coração do general. Mas é Lady Macbeth quem mais demonstra avidez com a possibilidade de virar rainha. Perversa e ardilosa, ela convence o marido de que o assassinato do rei é um passo imprescindível para a realização da profecia. 

Antes do crime, Macbeth pensa em recuar – afinal, ele é parente próximo do rei, um líder bom e justo. Porém, sua esposa consegue persuadi-lo e ele executa o monarca com um golpe de punhal. O peso da coroa, no entanto, traz apenas tormento e insônia ao novo rei. Sofrendo de dores terríveis de consciência, ele é incapaz de usufruir o que almejou. Ao mesmo tempo, teme a perda do poder recém-conquistado. 

No decorrer da trama, Macbeth vai se tornando cada vez mais insensível, sujando cada vez mais suas mãos de sangue. Por outro lado, Lady Macbeth, tomada pela culpa, passa a ter alucinações perturbadoras e se suicida.

Aproveitando a temática sobre culpa e consciência, que tal propor aos alunos uma discussão sobre ética? Uma definição do professor e filósofo Mario Sergio Cortella pode ajudar: “Ética é o conjunto de valores e princípios que usamos para responder três grandes questões na vida: Quero? Posso? Devo? Nem tudo que quero eu posso. Nem tudo que posso eu devo. Nem tudo que devo eu quero. Você só tem paz de espírito quando aquilo que você quer é, ao mesmo tempo, o que você pode e deve”.  

A partir dessa colocação, Macbeth agiu de forma antiética? Como anda a ética atualmente? Quem tem a consciência pesada perde o sono? Quem trai, fere e trapaceia experimenta também o sofrimento por meio da culpa?

Outra sugestão é explorar as definições de ambição e ganância. Qual das duas palavras está mais relacionada ao casal Macbeth? Quem é ambicioso pode se tornar ganancioso? Você pode propor uma pesquisa ou explicar aos alunos que ter ambição é buscar o melhor, se esforçar para a realização de um sonho, ter iniciativa. Muitas vezes, essa palavra é empregada de forma negativa e equivocada. Já ser ganancioso é querer algo de forma egoísta e a qualquer custo, mesmo que pessoas sejam prejudicadas no caminho. 

Uma terceira possibilidade é explorar o conceito de determinismo e livre-arbítrio. Nascemos com o destino traçado ou temos possibilidade de escolha? O que Shakespeare quis nos transmitir ao colocar bruxas prevendo o futuro de Macbeth? E se Macbeth não matasse o rei, será que não se tornaria soberano de qualquer forma? Apesar da profecia, ele não é o grande responsável pelas decisões que tomou?

A peça ganhou mais de 50 adaptações para o cinema e, frequentemente, é encenada no teatro. Vale a pena conferir a programação de sua cidade. Destaque para quatro filmes que podem servir de referência para você e os alunos. A montagem do norte-americano Orson Welles (1948), a do japonês Akira Kurosawa (1957), a do polonês Roman Polanski (1971) e a do australiano Justin Kurzel (2015). Este último é protagonizado pelos ótimos atores Michael Fassbender e Marion Cotillard.

Há também várias versões de Macbeth nas livrarias. Uma indicação é a edição traduzida por Barbara Heliodora, uma das maiores especialistas de Shakespeare no Brasil. A obra foi lançada em 2016 pela editora Nova Fronteira. 

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