Gestores e facilitadores do SEBRAE durante treinamento em setembro 2019 em Salvador – BA.   Crédio: Soraia Carvalho Fotografia
Gestores e facilitadores do SEBRAE durante treinamento em setembro 2019 em Salvador, BA ©

Soraia Carvalho Fotografia

Acompanhe como foi introduzida a metodologia, a visão geral do projeto linearmente e como o programa impactou no desenvolvimento da Economia Criativa do território.

Empreender nem sempre é fácil. São muitos os desafios, desde criar a empresa, entender a logística, fazer a comunicação, dialogar com o público, entre outros diversos cenários. Nesse sentido, as capacitações podem auxiliar no desenvolvimento de um negócio. E foi o que todas as nove unidades do Sebrae da região Nordeste fizeram utilizando as ferramentas do DICE Fellowship. 

O trabalho realizado em 2020 foi colocado em prática por intermédio da proposta do Developing Inclusive and Creative Economies (DICE), iniciativa do British Council que apoia o desenvolvimento de Economia Criativa e negócios sociais no Reino Unido, Brasil, Egito, Indonésia, Paquistão e África do Sul. O objetivo do programa é auxiliar empreendedores sociais e criativos a aprimorar o conhecimento e as qualificações para que possam sustentar seus negócios. Isso só foi possível graças à atuação de gestores e facilitadores, que contribuíram para o sucesso do programa. 

O Sebrae atua há mais de 45 anos desenvolvendo o empreendedorismo de pequenos negócios e capacitou gratuitamente empreendedores integrantes de grupos vulneráveis nas áreas de Economia Criativa e Social do Nordeste. 

O trabalho inicial e a atuação dos gestores 

A aplicação da metodologia DICE Fellowship teve a participação de gestores, facilitadores, além dos participantes que se inscreveram de forma gratuita. No Nordeste brasileiro, todos os nove estados desenvolveram a ação: Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e Maranhão. 

Joaquim Cartaxo, diretor-superintendente do Sebrae/CE e coordenador do Projeto Regional Nordeste da Cadeia de Valor da Economia Criativa, explica que o Sebrae identificou a necessidade de inserir os empreendedores criativos no ambiente do empreendedorismo de forma eficaz. Para o desenvolvimento do programa, Cartaxo destaca “A capacitação de colaboradores do próprio Sebrae no domínio da metodologia DICE Fellowship, bem como mudança de atitude dos criativos participantes”. 

A gestora nacional do Sebrae, Jane Blandina da Costa, que trabalha na organização há 16 anos e já atuou com várias metodologias de empreendedorismo, conta que a metodologia DICE Fellowship mexeu com seus princípios. “Ela trabalha profundamente o impacto social”, destaca. 

Devido à pluralidade dos participantes, o programa também tinha o foco de receber inscrições de mais mulheres, minorias étnico-raciais e pessoas LGBTQI+. Portanto, essa inserção fez com que Jane compreendesse a importância de trabalhar o impacto social. “Comecei a perceber uma diferença social a respeito de classe e raça em uma das dinâmicas da metodologia que eu nunca havia trabalhado”, pontua. 

A também gestora do Sebrae (RN), Ana Maria Fonseca Ubarana, que já atua em um projeto da Economia Criativa Nordeste, destaca a importância do programa na vida dos participantes. “O programa conseguiu fortalecer a autoestima do empreendedor, mostrar o seu papel como um agente de mudança e conectar pessoas totalmente engajadas no desenvolvimento de negócios criativos, mas também com forte e viés de negócio de impacto”, afirma a gestora. 

Ainda segundo Ana Maria, o impacto da metodologia DICE Fellowship proporcionou a integração de vários negócios criativos e inclusivos no estado do Rio Grande do Norte. “Houve negócios de pessoas que não se conheciam e que começaram a fazer parcerias, pessoas que não eram formalizadas e que constituíram suas próprias empresas ou mudaram o setor em que atuavam”, explica.   

A atuação dos facilitadores no processo 

Sara Cassiano, uma das facilitadoras da metodologia DICE Fellowship do Rio Grande do Norte, considera satisfatório o resultado do programa, como um todo. “Houve vários cases de sucesso, negócios que foram remodelados, ações realizadas de forma conjunta, uma verdadeira formação de rede”, afirma. 

Durante os seis módulos, os participantes puderam ter uma experiência real e criativa, em assuntos e práticas que abordavam: negócio e sociedade, resolução de problemas de forma criativa, viabilidade e escala, comunicação, valorização das pessoas e psicologia.  

O desenvolvimento da metodologia DICE Fellowship na vida dos participantes contribuiu para consolidar a Economia Criativa como vetor de desenvolvimento econômico, uma vez que agregou valor naquela região e também beneficiou outras empresas tradicionais.  “São negócios que realmente impactam a vida das pessoas de forma positiva, pois geram resultados porque, além de tudo, tem muito propósito em cada solução ofertada e no negócio criativo gerado”, explica a facilitadora Sara. 

Ela também ressalta o quanto o programa repercute em sua vida pessoal - afinal, vê na prática o resultado. “A metodologia é dinâmica e impacta positivamente a vida dos participantes. Criamos conexões e nos identificamos com tantas histórias de vida e com negócios cheios de propósitos”, destaca. 

Por sua vez, a facilitadora Veridiana Gonzaga atuou com um grupo na cidade de Caruaru, localizada no  Agreste de Pernambuco, e considera importante o impacto da metodologia DICE Fellowship na vida dos participantes. “Eles se enxergarem como potenciais empreendedores, foi de extrema importância”, relata. “Muitos negócios se reinventaram, criaram produtos novos ou trabalharam no mesmo segmento, mas criando produtos novos”, conta Veridiana. 

Com o adiamento do último módulo, devido à pandemia, os participantes tiveram mais tempo para colocar os aprendizados em prática. “Um comprou equipamento, outro máquina, houve investimento em cursos e capacitações, alguns desenvolveram produtos completamente diferentes dos que tinham antes. Isso tudo foi resultado do trabalho realizado”, relata a facilitadora. 

Veridiana também enfatiza o quanto o programa contribuiu para o retorno financeiro, melhorou o aspecto social e também possibilitou que muitos pudessem se sentir capazes. Ela também ressaltou a importância da conexão com o grupo e o quanto essa experiência teve também impacto em sua vida. “É também sobre a ótica pela qual vemos o empreendedor e o quanto entendemos o mecanismo do ser humano. Os problemas são os mesmos, as possibilidades também”, explica.

Umair Jaliawala da School of Leadership durante treinamento em setembro 2019 em Salvador – BA.   Crédio: Maçã Verde Filmes
Umair Jaliawala da School of Leadership durante treinamento em setembro 2019 em Salvador, BA ©

Maçã Verde Filmes 

Gestores e facilitadores do SEBRAE durante treinamento em setembro 2019 em Salvador – BA.    Crédito: Maça Verde Filmes
Roda de conversa entre participantes do DICE Fellowship durante treinamento em Salvador, BA ©

Maça Verde Filmes 

Gestores e facilitadores do SEBRAE durante treinamento em setembro 2019 em Salvador – BA.   Créditos: Robson do Carmo / CriAtivo Film School
Gestores e facilitadores do SEBRAE durante treinamento em setembro 2019 em Salvador, BA ©

Robson do Carmo / CriAtivo Film School 

O facilitador Mario Correia, do Sebrae (RN), considera significativa a jornada DICE Fellowship, com “A grande entrega dos participantes e o compartilhamento dos aprendizados e experiências”. E reitera a metodologia como uma ótima experiência. “Uma imersão única de empreendedorismo criativo, engajamento e entrega”.  

Ele ainda pontua alguns resultados:

“Empreendedores mais empoderados, seguros e encorajados na sua jornada, negócios com propósitos bem mais definidos, com maior solidez na missão, negócios criativos com viabilidade financeira e com potencial de escalabilidade, negócios mais sustentáveis – principalmente, em termos de viabilidade financeira - e empresas com melhor performance digital e com melhor presença de mídia e de mercado.” 

André Lira, facilitador de Pernambuco, foi um dos convidados pelos gestores do Sebrae, já que é consultor credenciado da organização em Pernambuco. André é especialista em Economia Criativa e pôde contribuir significativamente com o DICE Fellowship. Ele conta que o programa passou por um desafio grande, já que iniciou na pré-pandemia e terminou durante a pandemia. 

Durante os encontros presenciais, houve discussões e também sinergias entre pontos de diferentes pessoas e grupos. Consequentemente, isso possibilitou a construção da empatia, segundo André. “O programa DICE Fellowship preparou os participantes para lidar com o caos, as situações adversas, um mundo complexo e repleto de incertezas”, sinaliza. “Desse modo, foi possível que alguns empreendedores conseguissem fortalecer seus negócios, uma vez que houve quem mudasse de segmento e quem ampliasse ou recuasse”. 

Tatti Carvalho, da Bendita Projetos Criativos, de Salvador (BA), também reforça o impacto pessoal e profissional da metodologia DICE Fellowship. “Até hoje, o grupo todo me procura, trocamos informações. Vimos o desenvolvimento dos projetos a cada dia. Muitos se desenvolveram bastante depois do programa”, destaca. 

“Essas metodologias contribuem para que o empreendedor possa entender a complexidade do seu negócio, de uma forma mais ampla e, a partir daí, passa a buscar parcerias para o fortalecimento dos seus projetos”, completa Tatti. 

A facilitadora ressalta também o poder da Economia Criativa para o desenvolvimento da região. 

“Quando há um investimento na Economia Criativa, há investimento também no conhecimento das pessoas, que são bens simbólicos e tangíveis - não mensuráveis”. 

Resultados e negócios multiplicados 

Entre 2019 e 2020, o programa DICE Fellowship impactou mais de 500 empreendedores nos nove estados do Nordeste brasileiro. Uma delas é Solange Borges, da Culinária de Terreiro, da Bahia, que faz comida afro-brasileira, e que  participou de uma das turmas do DICE Fellowship afirma: “Como empreendimento criativo, nós começamos a ver outras possibilidades para nos organizarmos, por exemplo, na questão financeira, conta física, conta jurídica e de planejar o negócio”. 

Quem também sentiu o impacto do programa DICE Fellowship, foi Francismeire Silva Melo, de Caruaru (PE). O seu empreendimento é de aromas, Arte em Saboaria, e antes do DICE, ela que já passou dificuldades, declara como via o seu negócio: “Era totalmente desorganizado, desordenado, sem saber fazer cálculo, e sem saber como vender. Praticamente eu não sabia de nada, nem falar com as pessoas”. 

Assim, como Francismeire e Solange, outros empreendedores conseguiram se reinventar, reencontrar, inovar em seus negócios através da metodologia DICE Fellowship. “Percebemos que o Programa de Economia Criativa do British Council foi um divisor de águas na vida de todos”, ressalta Tatti Carvalho. 

Para saber mais

Conheça a atuação do programa DICE Fellowship na região Nordeste do Brasil e as experiências e os resultados da parceria feita com o Impacta Nordeste.