Como os hubs criativos impactam o ecossistema?
O valor da cultura e economia criativa para impulsionar o desenvolvimento econômico é evidente em todo o país. Para aproveitar esse potencial de expansão, surgiu o Creative Hubs Academy (CHA). Trata-se da parceria entre British Council, Hivos e Nesta, que busca ajudar a entender os desafios na construção e na consolidação de hubs criativos no Brasil. O parceiro de implementação da iniciativa no Brasil foi o Impact Hub São Paulo.
O que são hubs criativos?
Embora os centros criativos já existam há um século, nos últimos anos ganharam mais notoriedade. Os hubs são um ecossistema dinâmico de espaços criativos e comunidades de diferentes empreendimentos criativos, e tornaram-se locais para profissionais, como freelancers e micro, pequeno e médio empreendedores se reunirem, conectarem e colaborarem - e, assim, promover inovações de criativos setores em relação à sociedade.
Vale dizer que os hubs criativos não são apenas centros criativos. São mais do que um edifício e mais do que uma rede. Eles estão inseridos em suas comunidades e regiões. Suas atividades econômicas, culturais e sociais são diferentes, o que torna cada hub diferente, dependendo do contexto local.
Essa nova forma de desenvolvimento baseada no conhecimento e na geração de novas ideias, além de promover o crescimento de nossas sociedades, fortalece a inclusão social e a diversidade cultural. Afinal, estamos entrando em uma nova era, onde ciência, artes, design e tecnologia fazem parte de uma mesma realidade. Logo, torna-se importante mostrar com evidência aos agentes dos setores produtivos, os benefícios das relações entre o setor das artes e as organizações econômicas.
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O impacto nos negócios criativos
Através do Creative Hubs Academy (CHA), os participantes vivenciam o programa como um grupo, a fim de compartilhar experiências e aprender uns com os outros, e entender mais sobre operação, sustentabilidade e impacto desses espaços.
Assim, esses encontros possibilitam que os integrantes observem como servir melhor suas comunidades, garantindo a sustentabilidade dos hubs criativos, contribuindo assim no desenvolvimento baseado no conhecimento e em novas ideias, o que não só aumenta o crescimento da sociedade, mas também fortalece a inclusão social e a diversidade cultural.
Conheça os personagens que vivenciaram essa experiência, a partir de relatos sobre como foi participar dessa metodologia, que possibilitou o surgimento de uma rede de hubs criativos no Brasil, além da ampliação de negócios criativos.
Verônica Gentilin, atriz, produtora e gestora do Teatro de Contêiner Mungunzá, conta que “o resultado da turma, como um todo, foi acima das expectativas”. Ela ainda destaca: “Tentamos parcerias mesmo depois do término do programa. Essa rede [de participantes] ficou mais fortalecida e mais autônoma”.
A participação do Teatro de Contêiner no programa possibilitou que o grupo compreendesse melhor o vocabulário do empreendedor, como ressalta Verônica: “Somos da área cultural e não da área empresarial. Assim, as ferramentas, os kits e os exercícios dinâmicos foram fundamentais para podermos nos apropriar de processos que já executávamos”.
Vale ressaltar que o fortalecimento da rede reforçou a importância desta ser formada por pessoas que têm objetivos e propósitos muito semelhantes, embora sejam de empresas diferentes. O programa ainda possibilitou delimitar e discernir as ferramentas que a formação trouxe aos participantes.
Por sua vez, Isabel Pato, coordenadora de projetos da Rede-Comunidade de Inovação Social, destaca a participação de um grupo regional fora do eixo Rio-São Paulo, e salienta a importância dessas iniciativas. "São pessoas, organizações, fundações, entre outros agentes e instituições do ecossistema, que estão querendo fortalecer o campo da Economia Criativa e da inovação social”, destaca.
Esse é o mesmo sentimento de Edson Leite, fundador da Gastronomia Periférica e gestor de negócios. Ele enfatiza a importância da metodologia aplicada e da prática diante do aprendizado, essenciais para o fortalecimento de negócios, sobretudo os de periferia. "Às vezes, as pessoas têm uma boa ideia e não conseguem aplicar por não terem um direcionamento”, exemplifica. O programa possibilitou também a construção coletiva de uma visão maior sobre os negócios.
Já Luiz Claudio de Souza, coordenador do Bloco do Beco, conta que a contribuição na prática dos negócios é mais um dos resultados do programa. “A maioria dos participantes saiu com o sentimento de estar mais preparado para suas ações. Nós saímos maiores do que entramos”. Luiz também destaca que participar do programa, o despertou para novos sonhos, além de ampliar a rede de contatos e se conectar com pessoas e projetos diversos pelo Brasil.
Como muitos desses espaços precisam se reinventar, ele salienta que “Essas ações ajudam trazendo os novos modos de gestão. Certamente, somos um espaço que tem meta bem definida, equipe mais focada e estratégias mais consistentes”.
Sophia Prado, co-fundadora e CEO do Coletiva Delas, compartilha que o ponto alto da participação no programa foi a possibilidade de desenvolver parcerias e autonomia, aliado ao estímulo à criatividade. “Conseguir instrução, acesso às capacitações e ferramentas, que vão nos permitir dar sustentabilidade para os respectivos negócios, é muito importante”.
A participação no programa, por intermédio de uma série de ferramentas, incentivou os participantes a olharem para a governança das suas respectivas organizações e se identificarem como negócio. Para Sophia, a iniciativa trouxe também um impacto pessoal. “Teve um valor inestimável no meu crescimento pessoal e profissional”, reconhece ela, enquanto participante do fomento e do fortalecimento do ecossistema.
Ainda sobre o fortalecimento da rede, Marina Pereira, gerente de comunidades do Instituto Procomum, explica que, como resultado da experiência, o grupo foi mantido e que o apoio dos participantes diz respeito também à vontade de estarem juntos. “A pluralidade de corpos e vivências é notável na turma que se formou a partir de vivências múltiplas”.
Assim, na leitura de Marina, o programa teve “Cuidado coletivo, com a subjetividade e com a sensibilidade dos participantes, com processo de escuta e de diálogo”. Segundo a gerente de comunidades do Instituto Procomum, a própria fala dos mentores deixava os participantes livres para colaborarem, contribuindo para o processo criativo. Afinal, “Não há como criarmos se não estivermos à vontade”.
Todos os encontros trouxeram debates, com temas como o desenvolvimento de uma liderança feminina dentro de organizações, questões de cunho racial, de classe e de gênero.
Gildean Panikinho, gestor de projetos e co-representante da Wapi Brasil, destaca outro ponto: a contribuição do programa com diversos conhecimentos, que possibilitou instrumentos - como se aproximar de editais. Segundo ele, o programa permitiu “Estar atento às possibilidades e oportunidades de parceria. Potencializar as ações que já desenvolvemos, apesar de todas as dificuldades. Ou seja, nos gabaritou numa perspectiva de entender a importância de um capital de conhecimento”.
O gestor de projetos da Wapi-Brasil, que estava desempregado quando participou do CHA, afirma que a troca com os outros hubs foi essencial para o fortalecimento de seu próprio hub: “Estava passando por uma dificuldade enorme para acessar recursos, sem parcerias governamentais ou privadas dentro de uma comunidade que tem uma demanda muito grande”.
O programa também ajudou na construção da Casa Pretahub, um hub de inovação. Adriana Barbosa, fundadora da casa, afirma que a participação foi importante para a criação do espaço físico e do modelo de governança. Já no aspecto pessoal, Adriana relata que a oportunidade “Contribuiu para o estímulo, a presença e a disciplina voltados ao planejamento e aos objetivos. E, acima de tudo, a reflexão sobre o meu papel de liderança, servidora e não salvadora”.
Diante deste contexto, é possível observar que o CHA contribuiu para o fortalecimento institucional das empresas participantes. Ainda: a iniciativa possibilitou ao grupo a reavaliação de seus negócios, autonomia para gerir os processos, realizar um trabalho coletivo com criatividade e definir melhor as metas. Ou seja, ações que fomentam a cultura de colaboração no setor e podem ser um caminho para práticas de impacto social positivo.
Para saber mais
Não sabe por onde começar? O British Council desenvolveu uma publicação focada em apoiar empreendedores de hubs. O Creative Hub Leader's Toolkit é formado por 15 ferramentas práticas para ajudar na construção e gestão de hubs criativos. O kit pode ser utilizado por hubs em diferentes estágios.