Gabriela Ramos Leal, vencedora do FameLab Brasil 2020, comemora sua vitória na competição. Ela está vestindo uma camiseta preta com o logo do FameLab e possui tranças em seu cabelo. Gabriela está sorrindo e com o pulso levantado, em celebração.
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Imagem: Arquivo pessoal de Gabriela Ramos Leal | @gabivetleal

“Mãe, eu venci!”. Essa foi a fala emocionada de Gabriela Ramos Leal, 34, logo após ser anunciada como vencedora da 4ª edição do FameLab Brasil em um programa especial transmitido em rede nacional pela TV Cultura. A médica veterinária doutora em Clínica e Reprodução Animal se consagrou como a primeira mulher a representar o País internacionalmente e a primeira participante brasileira a chegar na final internacional. Em 26 de novembro de 2020, Gabriela Leal foi escolhida como ganhadora do FameLab International, na categoria Voto Popular.

O British Council, realizador da competição no Brasil, compartilha uma entrevista com a jovem cientista, que fez questão de juntar seu amor pela pesquisa e pela ficção de filmes e livros em todas as suas apresentações. 

Veja a apresentação de Gabriela Ramos Leal: 

Que bom falar com você! Primeiro gostaria de te parabenizar pela sua conquista. Ficamos muito felizes! Quero começar te perguntando quem é a Gabriela além da médica veterinária pesquisadora.

R: Acho que é importante começar dizendo que eu sou fruto de uma mistura em todos os sentidos. Eu tenho uma mãe negra, de esquerda e evangélica e tenho também um pai branco, de direita e espírita. Então, acho que isso já diz um pouco sobre mim porque eu cresci aprendendo a enxergar lados opostos. Eu também tenho minha comunidade de fé, eu sou cristã e, para mim, ciência e fé podem andar juntas. Além disso, como quase toda boa carioca eu amo praia e uma das coisas que eu mais gosto de fazer é ler romances. Se você me deixar com um bom romance eu esqueço da vida! Ah, e estar entre animais é uma coisa que me acalma porque desde pequena eu amo bichos. Eu era o tipo de criança que fazia enterro para a formiga, sabe?

E o que te levou a se inscrever no FameLab?

R: Em 2017, eu recebi um e-mail de uma pesquisadora convidando para assistir à final do FameLab no Museu do Amanhã. Até então eu não conhecia a competição e, chegando lá, eu fiquei muito encantada porque eu gosto de me comunicar e isso sempre foi uma característica muito minha. Eu sou uma pessoa que se interessa por Libras por exemplo. Desde então, sempre quis me inscrever e, em 2018, eu fui para o meu doutorado sanduíche na Austrália, acabei não conseguindo participar. Depois que eu voltei, decidi participar e me inscrevi para a 4ª edição!

Qual a importância do FameLab para você, ainda mais nesse período de pandemia?

R: Sempre houve necessidade de uma comunicação científica melhor para combater as fake news que aparecem por aí. E a pandemia se tornou um momento propício para isso porque até quem não se interessa ou até mesmo não acredita em ciência está esperando o que os pesquisadores têm a dizer nos próximos meses. Para mim, particularmente, foi muito importante porque eu sou médica veterinária. As pessoas pensam que se você não tem um pet, o médico veterinário não é necessário. E isso na verdade é uma necessidade de comunicar melhor, para que elas entendam qual é a importância da medicina veterinária num contexto de saúde pública. Por isso que durante o FameLab meu intuito foi trazer temas que mostrassem a utilização dos animais nesse contexto pouco conhecido.”

E quais foram os temas?

R: Na semifinal, eu falei da utilização de animais para produzir alguns fármacos. Na final, procurei falar sobre a utilização de cavalos como uma alternativa para a produção de soro e ser imune contra a covid-19, que é uma pesquisa que está acontecendo e que eu não faço parte, mas envolve diretamente a minha profissão e eu quis trazer um pouco disso porque é um tema extremamente importante nesse cenário de pandemia.

Como foi a sua experiência no FameLab?

R: Eu não me canso de repetir que o FameLab não tem aquela sensação de competição, é uma sensação de colaboração de quem busca comunicar a ciência. É todo mundo ajudando todo mundo, todo mundo tentando melhorar todo mundo. A competição é com você mesmo, você tentando cada vez se comunicar melhor. A gente recebe dicas de como melhorar nossos pontos fortes, como aprimorar algumas coisas. Eu acho que foi uma das melhores coisas que eu já ganhei e que eu vou levar para vida é conseguir ressaltar aquilo que é principal dentro daquilo que eu preciso trazer para me fazer entender.  Os treinamentos me ajudaram a reconhecer aquilo que de fato é essencial na minha comunicação.

E qual foi o maior desafio para você?

R: Meu maior desafio são os três minutos. Consigo até pegar um conceito, trabalhar na minha cabeça e traduzir de uma forma mais simples, mas eu levo tempo para isso. O tempo sempre foi em todos os momentos o maior desafio.

Foi a primeira vez que uma mulher vence o FameLab. Como foi quando o seu nome foi revelado? Gostaria que você comentasse um pouco sobre isso e sobre a importância da representatividade de mulheres negras na ciência

R: Eu não consigo nem definir. Chorei bastante! Quis participar porque acho a competição o máximo, mas nunca pensei que eu poderia ganhar. Esse ano, dos dez finalistas nós éramos 7 mulheres. Não tinha como não estar muito emocionada. Você nasce mulher e é uma condição que anos atrás realmente limitou muitos direitos, muitas conquistas, de muitas que vieram antes de nós. Levando em consideração anos onde os direitos e conquistas foram polidos, ainda falta muito para a gente ter um mundo mais igual, mas poder ser parte de uma experiência que mostra essa representatividade feminina nesse sentido é muito importante. 

No próximo dia 26, a gente vai saber o resultado da final internacional. Como foi para você ser anunciada como uma das 10 finalistas e representar o País pela primeira vez na etapa? Como foi saber que a sua apresentação foi umas das favoritas do público?

R: Na realidade, além de toda emoção de estar podendo representar meu país nessa competição, existe a emoção maior de ver que o nosso País era o único representante das Américas participando da competição e agora é o único país das Américas na grande final. Mas o que mais me deixa feliz é ver a conexão entre as pessoas e a união mesmo de toda galera que votou pela gente, pela ciência, pelo nosso país, de toda a galera que fez isso acontecer. Eu entrei pelo voto da audiência, eu estou muito feliz e muito honrada por isso.